terça-feira, 18 de novembro de 2014

a sombra chega cedo no vale dos prédios
o céu é encoberto por nuvens de pedra

O labirinto é um xadrez
e comprime o céu contra a fumaça
e se mistura a este
o labirinto da sua batalha

às vezes orgânico
qualquer refúgio nos foge
não há escape nem abrigo
por entre muros dinâmicos

não se sabe pra onde vamos
e talvez não seja preciso
sei que aqui a solidão
ela se esconde pelos cantos

o labirinto do seu dia-a-dia
sem sabor que não te engana
seu caminho de noite-e-dia
de semana e fim-de-semana

(Não é esta sua vidinha?
sempre igual e diferente
quase como a minha
que não ousa nem pretende)

A calçada da cidade é o fundo do tédio
a origem e um fundo de mar
Se te salvaria desta prévia perda
beber arte ou paixão
(fosse um instante)
amar ou odiar
não sabemos e não há bebida ou remédio

Quem sabe a realidade não é boa e uma tragédia?
...nos lugares onde as nuvens são de pedra!

pedras retas artificiais
belas nuvens
sem vertigem
elas não se movem
(alugam-se imóveis)
que não flutuam que não chovem!
(desordem e ordem)
que não pululam ou se dissolvem
prévia perda perdida em alguma hora que se foi
antes desta cidade

Quem sabe a realidade não é uma boa e não é mesmo
...e não é mesmo só uma tragédia?
...nas aldeias onde as nuvens são pedras...



segunda-feira, 13 de outubro de 2014

uma + uma, duas, três
xícaras de café
pra combater o stress
e um pouco mais de fé

para o que você não fez
é que não vai ter colher
mas pra todos vocês
que seja o que se quer

aguarde sua vez
enquanto acreditar
e guarde a sensatez
para desconfiar

aguado para sorver
como o tempo a se arrastar
amargo vai melhorar
sempre que a vida ferver


Bício. Sem título. Café sobre papel

filhos de Caim
anjos decaídos
venham até a mim
que também sou perdido
como todos os nascidos

julgar e ser julgado
é fácil demais
se o certo e o errado
é o que você faz
e o que você não faz

cheios de culpa
adquirida hereditária
que a consciência estupra
virtudes parecem raras
no calor da luta diária
é que vão ser forjadas

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

sentir a brisa sobre a superfície do planeta
ainda não paga o fardo que a gente agüenta
há mais coisas, que valem a dura pena
e são elas a causa das piores sentenças
justamente na sua ausência

não é justo como não era mesmo pra ser
situações e pessoas se cruzam e se desfazem
e no fim e durante, só o que se quer ter
é um pouco do que justifique tanta coragem
...do começo à outra margem
cidades parecem postos de gasolina
se tudo o que se quer
é outra vez estar na mira
dos olhos certeiros de menina
daquela mulher

outra vez, meu bem , o sol se inclina
sobre a estranha fé
como essa estrada minha
...é sinal que o mundo gira
sob nossos pés

que deixar a Vida pro tempo roubar
é a pior das besteiras
às vezes tens que o vento enfrentar
em vez de deixar a vela a te levar
é a diária lição derradeira
Jesus me dá a mão
tu que não tiveste a mão do pai
me ajuda a sair dos pantanais
que talvez não haja uma só razão

Me dá a mão, Jesus
tira meu capuz
me ajuda a levantar a cabeça
quando o mundo me arquear as costas
não me permite que a alma padeça
antes do meu corpo, sem respostas

Talvez tu sejas o maior exemplo
pra  ninguém nunca mais seguir
repetido através dos tempos
parar na cruz foi tua forma de prosseguir
 
ainda quero encontrar a minha
ainda que precise seguir vivo
e quando chegar ao fim da linha
de alguma forma encontrar alívio

terça-feira, 30 de setembro de 2014

...e parece que na verdade nada nunca muda
andei muitas milhas em rondas absurdas
entre os prédios da cidade e as ruas
e agora eu curto minha milonga muda

milonga muda em que eu me calo
milonga porque seria um canto
muda, já que é desencanto
e por silêncios, então, é que falo

milonga pra ficar de canto
pra conter raiva ou contar pranto
palavra pura pra curar pialo
quieta como o olhar mais claro

...pra contar história, cometer espanto
de quem vive, e quem vive, vive andando
uma idéia nova quase sempre ajuda
a andar no mundo, mas anda quem muda

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

uma cidade invisível sitia a nossa
de brasileiros que abandonaram a roça
enquanto não toma forma e cores
no miolo cercado crescem as torres

cruzamos nessas ruas nossas vidas
filhos de peões que deixaram a lida
e deserdados da terra ancestral
no centro da aldeia: marginal

como podemos ser tão cegos?
quem decidiu que isto é certo?
lacunas no espaço que conhecemos
a Imagem da Cidade que nós não vemos
 
sombras aos pés dos arranha-céus
somos todos de todos réus
vultos nos trens-fantasmas
entre fachadas, ruídos e fumaça

quinta-feira, 25 de setembro de 2014


a minha vida é em português brasileiro
brasileiro
é o que eu sou o tempo inteiro
 
é minha sina que eu monto do meu jeito
do meu jeito
sobre o caminho traiçoeiro
 
o meu destino
eu viro pra onde eu quero
até onde enxergo
meu caminho
é inventado, paralelo
atravessado pra nunca chegar no zero
 
meio sozinho
com pensamentos na minha língua meio estranha
do Sul, sul-americana
(eu vou indo)
(meio sozinho)
com pensamentos-sentimentos que se ganha
(evoluindo)
caminhando sob o próprio peso há semanas
(eu vôo indo)
flutuando na imensidão do céu tamanha